terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nosso coração é asa - parte IV

Veio lá de longe um som desses que se pode identificar até mesmo se surdos fôssemos. Gritava um homem, que não conseguíamos enxergar, que sua Tequila era boa. E chamamos pelo amor, gritamos também pela paixão do líquido, entoamos nossas vozes numa só pra que se tornasse ainda mais forte e chegasse aos ouvidos deste homem de Deus que faria nossa alegria. E chegou todo espalhafatoso, cabelos compridos, dreads muito mal feitos em uma cabeça muito mal lavada, os cordões típicos dos maconheiros adoradores desse reggae do inferno, onde o Capeta maior, Bob Marley, e suas melodias que ditam o amor desmedido, são tocadas ao mais alto som que é ouvido até mesmo no firmamento provocando tremedeiras nos anjos que por vezes caem (literalmente) em tentação dando um rolézinho nas trevas pra curtir um sonzinho mais gostoso que as tão enjoadas Harpas do Paraíso. Mas o tequileiro chegou todo desastrado e esbarrando num e noutro, atingindo um amigo que estava conosco, fazendo ir ao chão toda a sua mercadoria tão valiosa! Eram copos, limões, sais, todos jogados no solo sujo daquela rua movimentada, e vinham os transeuntes pisando sobre seus produtos o que provocava ainda mais raiva ao genérico jamaicano. E foi gritando em nossa direção:
__ Qual foi playboy!? Quer me fuder? Vai pagar minha mercadoria, vai pagar... Porque eu sou trabalhador e não to aqui pra ficar aturando esses moleques cachaceiros que ficam derrubando bandeja dos outros não, tá ligado? Vai pagar minha mercadoria mesmo, vai morrer numa grana, tu derrubou meu bagulho, tá geral pisando no meu bagulho aí no chão e eu não vou embora no prejuízo não...
A gente começou a rir da cara dele porque foi uma coisa realmente muito engraçada. E o amigo Allanzinho dizendo que dava cinco reais pelo prejuízo, desde que o tequileiro liberasse duas tequilas de brinde. E o cabeludo ia gritando e dizendo que queria seu dinheiro, e nos maldizendo em via pública e peitando os amigos que também não sabiam o que fazer.
Usei de minha maturidade excessiva, como sendo o mais velho do grupo, presidente da União que fazia história naquele momento, deixei estar, me abstraí e convenci minha mente de que deveria agir em prol dos membros usando cautela e sabedoria. Era uma situação drástica, terrível, da qual jamais passei em minha vida. Analisei todo aquele drama, botei minhas idéias no lugar, clamei pela sapiência dos deuses e recebi a luz que precisava. Puxei na carteira, dei cinco reais na mão do Tequileiro abusado e fomos embora sem olhar pra trás...
São histórias assim que me fazem acordar no dia seguinte com um evidente sorriso no rosto só por ter a noção de que o evento marcou de alguma forma, seja má ou boa. Por mais que o objetivo de ingerir a tequila não tenha sido alcançada nesse momento, pelo menos passamos por uma situação inusitada e o sorriso brotou de qualquer forma em nossos rostos. Que seja, se não tem tequila, a gente bebe a vodca!

Um comentário:

Leilinha disse...

Caracaa, quase apanhou do Bob Marley heiim?! kkkkkkkkk