terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nosso coração é asa - parte V

Gugu em toda a sua sagacidade de experiências com álcool, foi bebendo, na boca da garrafa, no copo, de canudinho, com as mulheres jogando tudo em sua boca. Parecia ter uma sede insaciável, aquele jovem de pequenos olhos e orelhas grandes. O mundo ia sendo descoberto a cada gole que sua garganta insaciável empurrava pra dentro aqueles líquidos de cores diferentes, toda aquela alegria que vivia dentro das garrafas, felizes por morrer nos lábios do nosso amigo Gugu. Mas todo império, por império ser, um dia cai. Sabemos de cor que Gugu não representa império algum, sabemos também que seu poder não se assemelha ao de qualquer um desses imperadores que já mandaram e desmandaram nos seus respectivos territórios e tudo mais, porém a ironia há de ser colocada e Gugu caiu, tão loucamente como algo ainda indefinido.
Estávamos lá prontos pra partir rumo à felicidade maior que seria encontrada dentro do recinto, quando prostou-se ao chão, o amigo Gugu, com uma face da qual não conseguíamos distinguir quaisquer tipos de vontades ou desejos, não respondia às nossas perguntas, ficava lá sempre estático com sua cara de bobo ainda mais acentuada pelo efeito que o álcool causa nessas pessoas sem experiência.
Mas não poderia ser, estava tudo tão perfeito, tudo tão maravilhoso, as mulheres passando e voltando sempre com mais vontade de nos possuir como fosse o último de seus dias, o sol jogado no alto do céu acompanhado de algumas nuvens que nos prometiam uma chuva perfeita em pouco tempo, toda a responsabilidade esquecida e deixada de lado, o prazer do esporte que se fazia imenso com uma vitória exagerada e, de repente, tudo cai, como caiu o Gugu.
Mas não poderíamos calar perante a situação que se desenrolava frente aos nossos olhos. Até mesmo passou, numa rapidez sem tamanho de talvez meia hora, o pensamento de abandonar ali o corpo estirado de Gugu pelo chão, entrar no templo do amor, deixar a vida nos levar pelo prazer que nos levou até lá e na saída elevar seu corpo mole e desfalecido nos ombros de volta pra casa apresentando-o à sua mãe, e oferecendo-se na ajuda de cavar um buraco no qual pudéssemos jogá-lo.
Vimos que essa idéia não podia ser boa e passamos a procurar uma ambulância que ajudasse nosso companheiro da melhor forma possível. Eis que sinto-me no direito de evitar os percalços dessa caminhada pois a dificuldade se pôs em nossas vidas no momento em que queríamos salvar a existência de Gugu, que a esse ponto da história, já não abria mais os olhos e ficava lá babando como algo que muito baba. E os que nos acompanhavam tinham intenções boas para com o rapaz bêbado, mas totalmente sem noção de ser. Queriam jogar balas dentro da boca do rapaz pra ele voltar, tapas na cara, levantá-lo e fazê-lo andar na marra, gritavam horrores com ele como se ele estivesse mesmo ouvindo alguma coisa.
Foi então que meus dotes de técnico em Enfermagem se afloraram e pedi licença para poder exercer do poder que os ensinos e a experiência na área me proporcionaram durante os anos. Joguei Gugu no chão, deixei-o lá sentado babando na minha mão e fui sincero quando falei em seus ouvidos, utilizando assim um procedimento muito prático na área da Saúde: “Olha aqui, seu viadinho, to puto pra caralho contigo porque você encheu a cara e agora a gente não pode entrar na maior festa do ano pra ficar aqui tomando conta de tu. Se é pra morrer, morre logo, ou então fica bom porque eu já to ficando muito nervoso!”
Então ao proferir essas palavras em seu ouvido, a moça educada que trabalhava na contenção das pessoas pra que não invadissem a área das ambulâncias nos autorizou a levar o corpo morimbundo de Gugu pra dentro onde poderia ser atendido da melhor maneira.
Alívio em nossos peitos e então fomos de encontro ao que mais prometia no dia. Já era tarde, a festa já estava pra lá de sua metade, tudo estava dando errado, mas a esperança nunca sai de nós. A esperança é dessas coisas anormais que sempre nos fazem levantar da derrota e admirar o novo plano que vai se desenrolar de uma forma tão ordinária que, por ordinária ser, ainda nos faz sorrir de desgosto. Entramos e curtimos a micareta da maneira que nos foi oferecida.
É fato real e não se pode negar que de todas as vivências já experimentadas, essa foi a mais fraca que já se viu. Porém em toda sua magnitude, a festa do prazer sempre deixa boas lembranças e as marcas de um dia melhor que irá nascer quando o sol voltar na manhã seguinte.
Não nos arrependeremos de nada que tenha acontecido e faremos tudo de um jeito melhor quando nos derem mais uma vez camisas coloridas pra que possamos cantar alucinados atrás de um caminhão cheio de luzes brilhantes.

Até lá, esperaremos.
P.V. 10:58 17/11/09

Um comentário:

Leilinha disse...

Caracaaaaa o Gugu ficou na mão do palhaço....rrrsrs
Gostei da suas técnicas pra resolver a situação do moribundO...
kkkkkkkkk