domingo, 1 de novembro de 2009

Reflexões de um sonho sem fundamento

Andando por um retorno, crianças fazendo malabares pra ganhar a vida, policiais militares parados, descobre-se o motivo, um homem morto eletrocutado, ainda agarrado ao metal energizado que lhe tirara a vida, andamos mais e a chuva começou a cair, uma novinha com um guarda-chuva grande, outros rapazes se aproximando, mas nossa intenção é maior, pergunto se não posso me aconchegar embaixo de sua proteção, ela deixa, vamos andando, meninos fazendo badernas saudáveis ou não em um trem, e vamos pegar o trem, mas tu já perguntou o nome dela? Que ela se contente em ser chamada de linda... e acordo.

Preocupado por querer saber o nome daquela que nos acompanhava rumo ao destino comum de três pessoas perdidas no meio da chuva que caía sem dó nem piedade sobre nossas cabeças fazendo umidecerem nossas vestimentas, tão justas e perfeitas nos corpos novos que ainda nos pertenciam, perguntei ao amigo meu se ele saberia me dizer, então, a graça daquela jovem no alto de seus poucos anos de idade. Foi direto e claro quando me dirigiu a palavra desconhecendo qualquer informação sobre a menina e que ela deveria se contentar em que a chamássemos de linda. Linda, somente.
Pois se assim era, assim deveria ser.
E se recusasse tal oferta, poderíamos lhe mostrar que estava errada. Eis as opções de convencimento, tão abordadas nas reuniões UCMlísticas. Poderíamos dizer, então, que nos dias de hoje, com toda essa falsidade que existe no meio social, já não gostam mais de dizer a verdade e nós, como seres justos e dignos com família formada e educação passada de berço, não coagiríamos com tal impureza dizendo a mentira; diríamos que era linda pois essa é a mais bela sinceridade que há em nossos corações. Ou abordaríamos a gramática social, criada por mim, ou por qualquer outro que desconheço o nome e não mereça os créditos da criação, que diz em seus diversos livros sobre o assunto, a abordagem de um nome único pra que não se deixe de lado o nome verdadeiro, como fosse uma forma de não esquecer jamais aquilo que se propõe a lembrar-se. Um exemplo científico é daquele homem sem-vergonha que chama todas as mulheres de “coração” só pra não confundir seus respectivos nomes causando assim uma conseqüente terrível bagunça interna. São só alguns dos modos que poderíamos usar pra convencer, mas detenhamo-nos por aqui pra não prolongar em demasia os fatos que duraram pouco tempo de uma noite.
Tendo noção da responsabilidade, se me chamam, eu devo acordar, mas aprecio muito mais a posição horizontal do que a vertical, até mesmo por motivos pederastas que não precisam ser aqui explorados pra que a audiência suba. Vamos decorando Brás Cubas, imitando o presidente de honra da Academia, burlando as convenções, e subindo a escada de cima pra baixo.
Pois então no movimento das pernas, nota-se um homem morto, deitado no chão, mais negro que o carvão que já vai se extinguindo de nossa realidade. Mas o homem também há de se extinguir assim como tudo e todos. Tudo acaba menos a matéria, a matéria se transforma apenas.
Mas me traz à tona outra dúvida cruel. Sei que não é o espaço apropriado, mas tenho que me dizer. Se a matéria somente se transforma e não pode ser destruída, conclui-se que surge de algum lugar, do contrário já teríamos total certeza de que ela existe por si só, desde os primórdios dos tempos, e de lá até cá, tudo continuou igual, no mesmo peso e tamanho, somente modificando a forma. Mas se minha mãe teve a alegria e desprazer de dar-me à luz, então eu não existia, não tinha matéria a não ser o anão espermatozóide de papai em seu saco, já vasectomizado; pois se nasço, se estou aqui, do tamanho que pode ser observado, nota-se que a matéria foi, sim, criada e desenvolvida através de um crescimento observado depois dos anos. É fato concreto, depois dos argumentos apresentados, que se chegue à conclusão de que a matéria não pára de ser criada, com a fudelância evidente e previsível, e com isso, o peso da Terra vai aumentando, já que uma vez criada a matéria não pode ser destruída. E bem me disse meu professor dos dentes amarelos e cheiro de fumaça, de Física, do segundo grau, que matéria é o nome vulgar de massa. Se a matéria aumenta, a massa aumenta, o peso aumenta... Daqui a pouco a Terra vai começar a cair de tão pesada...
Porém, voltemos ao homem morto como um carvão pois cadáveres fazem mais sucesso que a Física. Era estranho observar toda aquela movimentação estática dos homesns da lei que viam o corpo estirado ao chão e nada faziam a não ser algumas caretas para a cena feia que ficava frente a seus olhos.
E meu carro era tão estranho que eu parecia andar enquanto o carro ia ao meu lado, ou comigo dentro dele, ou ele fora de mim. Alguma coisa parecida com ‘muito estranho’ acontecia e juro que não consigo descrever.
Então depois do retorno, os meninos que faziam malabares já não queriam mais jogar as bolas pro alto, pois ali estavam há tanto tempo e ninguém se importava com seus serviços de arte, só queriam passar pelo cruzamento, reduzir a velocidade para ver o morto e continuar a viagem, assim como eu parei um pouco, olhei pro carvão e segui no meu carro movido a derivados de petróleo.
Na verdade, os meninos no sinal fazendo malabares são um detalhe tão pequeno em nossas vidas, não é mesmo?
Um pouco antes, ou um pouco depois eu vinha andando sozinho, lembrando de amores do passado, justamente o melhor sonho que posso ter, o início perfeito de toda viagem, o primeiro passo para uma noite de vitórias sempre foi o passado, até mesmo porque se quisermos, de fato, analisar uma linha do tempo, temos que começar de lá pra chegar até aqui.
E como antes do começo está o nada, fico por aqui com meu silêncio.
P.V. 10:13 01/11/09

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