sábado, 20 de fevereiro de 2010

Retalhos de cetim do meu carnaval - III

E se era somente um desfile de algo que já faz muitas décadas de idade, se arrastam multidões que já passam das casas dos milhões, se a cidade inteira fica estática observando passar aquilo que esperam o ano inteiro, se a vida derradeira de um homem se resume ao que acontece em alguns instantes de barulho, se tudo o que já foi dito e escrito sobre o que acontece fica eternizado nos alfarrábios dos confins da história, se o mundo admira, se as pessoas admiram, se todos pulam enlouquecidos atrás de um trio elétrico gigante suficiente para fazer o som chegar ao mais distante ouvido da larga avenida, se tudo é muito naquele lugar e os homens misturam-se com as mulheres almejando algum tipo de relacionamento intenso de Carnaval, e conseguem êxito ou não, se tudo isso é tão importante pra tantas pessoas, minha felicidade foi só poder olhar o sorriso de Durique mais uma vez... e o bloco ia passando...
Se Deus, sempre intenso em suas surpresas, confeccionou, em sua fábrica de perfeições, algo melhor que Durique, espero que Ele mantenha lá guardado para todo o sempre. Deve ter em mente a saúde de meu coração cada dia mais fraco para com belezas exageradas e olhares sem destino, e sorrisos perdidos, e corpos que evoluem tão depressa que minha libido não consegue mais acompanhar.
Não há nada para se esconder quando tudo que existe é a verdade de uma ilusão sadia para o sentimento crescer forte e vigoroso no futuro exato de quando a sinceridade de um amor brotará do chão ou do peito mostrando aos olhos alheios algo tão grande que jamais puderam ver. E quando enxergarem, eu poderei largar tudo o que me estiver cercando, poderei abandonar qualquer sensação de amor que esteja tomando conta de mim na ocasião, qualquer laço, qualquer coisa mesmo, pra adentrar nesse circo louco de selvagerias e realizar quaisquer pedidos que a dona da lona tenha.
Durique, dona do circo, e seu bloco de sentimento foi passando e eu não vi Bolas Pretas algumas no caminho que percorremos lado a lado. Também não faria questão de ver...
Os olhos, tanto o esquerdo quanto o direito, só tinham idéias fixas (e sempre quero livrar-me das idéias fixas) de admirar o Carnaval unificado que ia desfilando ao meu lado. Perdiam-se por lá também, uns outros homens tão idiotas quanto eu, que cegavam-se, emudavam-se, rendiam homenagens mil ao sentirem-se atraídos pela magnitude da beleza de Durique ao passar soberana com seu andar de rainha no meio da multidão.
Os vestígios de vida amorosa ainda restam em meu coração, por isso perco meu tempo catando letras em homenagem à mais linda mulher que já esteve ao meu lado. E não me sinto triste por isso. Há de ser feito um apelo nacional, por mais que as mulheres leitoras que estiverem nesse momento conferindo meu conteúdo de carnaval não concordem com tal explanação, de se elevar ao cargo simples de Rainha do Cordão, a Bela Durique no alto de seus poucos anos, ainda desconhecidos por mim. Há de ser colocada no mais alto degrau da fama, admirada pelos milhões de foliões sedentos pela carne da festa, há de ser elevada ao local de onde jamais deveria sair a não ser para correr lindos e verdes campos ao meu lado, quem sabe com o som nervoso da banda que tocava lá naquele lugar que estávamos, lugar que eu estava como fosse uma simples desculpa para que pudesse vê-la outra vez depois de muito tempo longe...
Mas amor de carnaval só dura enquanto há carnaval. Meu coração nunca será dela, tinha em mente outros compromissos menos melosos e românticos do que minha imaginação, até mesmo porque esse é o intuito da celebração que dura apenas quatro dias no ano... parti, sem olhar pra trás, sem nomes no coração, sem dores nem tristezas, mas não sem antes me despedir daquela que inspira minhas melhores palavras, talvez as mais
sinceras...

Um comentário:

Karoline disse...

mas uma vez surpreendendo né ?
obriigada seu bobo ,
vc é demais s2