quarta-feira, 19 de maio de 2010

O dia C II

Fui andando, solene e calmo, o sorriso marcando cada passo de minha caminhada enquanto tudo ao redor ainda se fazia escuro, enquanto o mundo dava marcas de como eu gostava da vida, enquanto a Lua ia se escondendo devagar, com medo das coisas que ainda aconteceriam em minha volta.
Avistei um vulto ao longe.
Certos homens não precisam enxergar bem para saber que uma mulher está vindo. O plano não poderia falhar, um passo para trás não poderia ser dado, em hipótese alguma eu deixaria passar essa oportunidade perfeita naquela rua vazia, naquele silêncio da noite, na escuridão que nos fazia eternos em nossa vida a dois. Vinha ainda o vulto, andando devagar, cambaleante, alguma coisa um pouco tensa...
Ainda estava longe, não tinha total vista do que era, de quem era, de como era, mas para mim, sinceramente, isso já não importava mais, vinha balançando, talvez já estivesse hipnotizada pelo meu olhar que a fuzilava há algum tempo. Minhas palavras eram exatas e certeiras, tinham que atingir um ponto crucial, aquela bela mulher se faria minha de qualquer jeito, deveria começar bem o dia...
Ao se aproximar um pouco mais, percebi algo estranho, a criatura era baixa, tinha pouco cabelo, cambaleava muito, parecia cair a cada instante, não se via alguma beleza, não se via pouca idade, não se via quase nada de bom, na verdade. Estava completamente bêbada. Quando a luz de um poste acertou em seu rosto pude lhe identificar... Era Perereca!! Famosíssima cachaceira de nossos tempos, de nosso humilde bairro, com suas roupas rasgadas e a boca com essa falta de dentes óbvia e visível, com seu cabelo mal cortado, com todos os palavrões gritados pelas ruas enquanto passava na frente de carros, enquanto arrumava confusões. Apaixonei-me, de uma forma que há muito tempo não me apaixonava. Ela já ia passando por mim, ia me ignorando, ia deixando-me de lado, quando puxei-lhe pelo braço. Perereca gritou. Fui sincero o suficiente para dizer, no fundo de seus olhos que já iam se fechando como se estivesse com um sono muito grande, que sua boca deveria pertencer à minha boca, que seu corpo deveria embolar-se com o meu numa dança macabra e amorosa, que nossas línguas haviam de se perder num beijo eterno para marcar o começo de um amor, de um sentimento, o fim de uma paixão. Soluçou na minha cara e senti todas as cachaças de todos os bares vindo em direção ao meu nariz. Embriaguei-me de amor. Beijei-lhe...
E ela me batia, se fazia de difícil, tentava gritar dentro da minha boca, mas tola... jamais conseguiria, minha vitória tinha sido alcançada. Aquele vazio dentro de sua boca era algo estranho que ainda não tinha experimentado, mas não chegava a ser ruim. Se não fosse o fato de ela estar há algum tempo sem banhar-se, talvez poderia lhe levar lá em casa para meus pais conhecerem.
Larguei lá no chão Perereca, sedenta de amor, louca de paixão, e parti, rumo ao meu destino, pois não poderia perder o trem.

2 comentários:

KM disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
PERECA DIFÍCIL HEIN.. MAS ELA SE RENDEU! rS

Leilinha disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Caraca, ela tentou...mas não resistiu o seu charme!!