quarta-feira, 19 de maio de 2010

O dia C V

Fui andando, caminhando solene e calmo mais uma vez, dono do mundo, localizado no meio do país, de onde não deveria sair, talvez um altar devesse ser construído, talvez vermelhos tapetes devessem ser colocados sob meus pés pra que eu não os sujasse no árduo caminho de saída do trem até o metrô. Essa baldeação acaba com minha saúde, essa distância percorrida entre um sono e outro tira minha motivação de dormir nos transportes, e quase caio no chão...!
Perdão aos senhores, e perdão às senhoritas, algumas ainda virgens com seus gritinhos de sempre, mas tropecei em meu caminho, quase dou com minha cara, tão linda, no chão, quase me estatelo ao solo sujo e fétido dessa estação derradeira e quando me virei para trás a fim de ver o motivo de tal explanação de queda, deparei com essa mulher sentada no chão, a lata velha de Leite Ninho na mão balançando, talvez pedisse dinheiro aos transeuntes apressados em trabalhar, talvez fizesse algum tipo de mágica onde sairia, provavelmente, um coelho daquela lata malfadada. Apiedei-me...
Vejo sentimento em muito pouco, mas nesse tanto jogado ao chão enxerguei mais do que apenas desejo. Vi sinceridade. Olhou-me com olhos marotos, algumas remelas, nenhum brilho.

Entendem meu ponto vista, o mundo começa a me enxergar, conseguem ver onde quero chegar com esse pandemônio, a missão está clara aos olhos de quem me lê? Como sou tolo... essas idéias fixas ainda me matam, Machado...
Um amor é um amor, um sentimento sempre será um sentimento, mas os homens da conquista, guerreiros eternos da paixão do instante se rendem a um presidente quando este usa de suas artimanhas e seus intensos códigos de safadeza a fim de chegar nas suas vontades, a fim de matar seus desejos.
Comprei balas da bela camelô do trem.
Tinha ainda algumas moedas.
Encarei a pedinte. Indaguei-lhe sobre sua vida, perguntei se sentia fome, quis saber de sua presença e motivos por ali estar, quanto já havia arrecadado naquela lata, o que faria pra ganhar algo mais... Fui direto no meu interesse. "Beija-me a boca que deposito meu trocado nessa tua lata maldita, ó mulher insana, jogada ao chão, que me faz tropeçar na tua beleza enquanto dirijo minha pessoa à responsabilidade diária de minha função na área da saúde."
Forças pra responder ela não tinha, balançava ainda a lata de lados para lados fazendo nascer uma onomatopéia característica. Botei a mãos nos bolsos, um esboço de brilho em seus olhos, ajoelhado como eu estava, joguei uma moeda na lata, um barulho, um beijo, minha mão esquerda na lata, minha mão direita em sua nuca, seu espesso cabelo não deixava que meus dedos pudessem segurar com mais força. Chupei-lhe a língua quando joguei a segunda moeda dentro da lata e um barulho mais alto foi reconhecido, talvez fosse uma moeda maior, talvez de dez centavos...
Já não podia mais estar ali. A libido ia tomando conta de meu corpo de forma tão acentuada que os outros trabalhadores, tais como eu, que passavam a caminho de seus respectivos empregos já formavam um círculo em volta desse amor momentâneo que eu participava com felicidade e prazer.
Levantei-me. Joguei mais algumas pratas na lata da linda pedinte. Fui em direção ao metrô, a última das locomotivas que me levariam ao destino final de minha viagem.
Esse mundo anda cada vez mais tenso, cada vez mais estranho, e eu, humilde sempre com minha confiança excessiva, mostro aos cinco cantos que ainda restam, o quanto de bom poderia ser feito, o quanto de bom há de ser feito para que nada mais de ruim aconteça, uma antagonismo incrível, a luta do bem contra o mal, minhas palavras medidas contra atitudes impensadas.

Um comentário:

KM disse...

ARTIMANHAS, INTENSOS CÓDIGOS DE SAFADEZA.. É CAPAZ DE TUDO NESSA VIDA, ATÉ PASSAR 24 HORAS NO INFERNO, PRA MATAR UMA VONTADE, O DESEJO DE UMA CARNE NÉ, PRESIDENTE..
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

QUE CONQUISTA DRAMÁTICA ESSA HEIN..! KKKKKKKKKKKK