quarta-feira, 28 de abril de 2010

Aposentadoria

Vai lá um presidente em decadência, vai lá o homem que foi, um dia, dono das conquistas, rei de seu tempo, senhor das mulheres, vai um presidente que ainda dá as cartas numa mesa jogada num canto qualquer do destino, vai um homem, mais de duas décadas de histórias ganhadas, jamais perdidas, vai um presidente de uma união de conquistadores que deixou marcas inesquecíveis no coração de muitas e agora se esforça ao máximo para estar por toda a eternidade dentro do coração de uma só, uma única mulher que sozinha vale por todas as outras que vieram antes, uma única mulher que só se faz primeira dama porque o homem se fez presidente, uma única mulher que só pôde ser sua mulher depois de ter conhecido todas as outras.
Penduro as cuecas.
Tiro meu time de campo.
Deixo de lado o passado pra assumir o presente e o futuro.
Nossa, as cores são tão mais fortes a partir de agora, vejo com olhos tão diferentes as coisas que via antes, acho menos graça nas bobeiras, grito bobeiras mais engraçadas, sou feliz...
E a sociedade perde um líder, a sociedade deixa de lado agora um homem que dedicou sua vida ao ensinamento do amor, um guerreiro jogado à margem, marginalizado, bandido, criminoso, feliz encarcerado na cela do amor de sua mulher.
A coroa vai repousar em outros leitos, a vida de rei, a verdade da presidência continuará como uma faixa pendurada no peito que não sai jamais, amarela, apodrece, entra na pele, morre no coração...
Penduro as cuecas, a partir do vigésimo quinto dia do quarto mês desse ano que inicia uma nova década, dois milênios após a morte de Cristo, meu brother...
Nunca pensei em escrever esse tipo de coisa, admito, mas nesses últimos tempos em que a vida se virou para mim e pediu para ser degustada, nada mais me surpreende, nem o sentimento crescendo dentro do meu peito, nem a carteira vomitando no meu bolso, nem meu time que já é o melhor do mundo, nem meus amigos que se fazem os melhores a cada dia que passa, nem a felicidade extrema que meu sorriso sorri sempre que lembra disso tudo junto, sempre que vive isso tudo junto.
Foi-se a poligamia, foi-se embora para bem longe todas as palavras estranhas, foi-se lá pra trás aquilo que eu fazia de mal, vieram as boas intenções, a monogamia, a pederastia de um, o sentimento intenso, quero ainda a noite, mas volto de mãos dadas, quero ainda o ritmo louco do funk, mas desço e subo com ela, quero ainda o erro e a irresponsabilidade da juventude, mas divido a culpa com ela...
Diga lá então por que se vai um presidente que pendurou as cuecas, por que entristecem os cantores, por que emudecem os prosadores, por que derrubam lágrimas os apaixonados, se nada há de mudar se não para melhor...?
Vejam meu sorriso, vejam como estou feliz, como estou feliz de uma forma que nunca estive, vejam que a vida vai andando mais devagar agora, nada corre, tudo é tempo, o tempo é tudo, a moça mais bonita pertence ao homem mais feliz e desejo em dobro a quem me crê...
Penduro as cuecas por tempo indeterminado, com altas probabilidades de eternidade.
P.V. 17:50 28/04/10

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