quarta-feira, 21 de abril de 2010

Pela calçada

Vim pela calçada, andando com a cabeça erguida de um homem valente e forte, poderoso, presidente, bobo, apaixonado, morrendo de saudade. Vim pela calçada pois a rua se faz perigosa e os carros em alta velocidade poderiam tirar minha vida e pior, a possibilidade de um belo sonho ao lado da mais bela mulher que já toquei os lábios. Vim pela calçada com medo de chegar muito rápido em casa pois sei que os pensamentos da rua são tão maiores que os do lar, justamente porque percorri todo aquele caminho uma vez na ida ao seu lado, de braços cruzados, como daqui a algum tempo quando entrarmos numa dessas belas igrejas todas enfeitadas, ou então que seja na praia, e as blusas abertas e brancas, a havaina no pé e o vento forte do mar fazendo voar seus cabelos castanhos. Vim pela calçada e em algumas vezes olhava diretamente pro céu, procurando com pouco sucesso minha maior companheira Lua, com seu sorriso prateado, pendurada no escuro do céu. Vim pela calçada pois o nível em relação à rua é maior, e eu, no posto que estou de felicidade nesse momento que escrevo malfadadas palavras, é de topo, no lugar mais alto possível, um homem que caminha com uma mulher como essa deve ocupar um lugar de destaque. Vim pela calçada, mas pra ser sincero minha vontade maior era dar meia volta e bater em seu portão, gritar seu nome, apertá-la em meus braços mais uma vez, deixar um pouco mais do seu perfume natural de deusa no meu corpo, dizer-lhe todas as coisas que meus olhos gritam quando brilham encarando seu sorriso, poder beijar-lhe a boca mais uma vez, a última vez nessa noite tão perfeita que não cabe nas minhas letras, extrapola os limites de um parágrafo, não se fazem totais em qualquer plenitude. Vim pela calçada com os olhos fitando um horizonte que não existe, vim enxergando tantas coisas que não se podem ser descritas que me sinto frustrado por não conseguir compartilhar toda a minha alegria com o resto do mundo. Vim pela calçada sentindo as sensações de um coração apertado de saudade muito precoce, um sentimento tão forte que, de fato não pode ser, de forma alguma, escondido. Vim pela calçada e havia na minha mente uma imagem única, um sorriso perfeito, curvas bem desenhadas e tudo mais, as mesmas coisas que não se podem esconder, as mesmas coisas que me fizeram mudar de rumo da noite pro dia, tudo que um dia, talvez há um ano, me fez perder um pouco do sono, e hoje tira completamente qualquer pretensão de sequer fechar os olhos, atira longe os travesseiros, desarruma a cama, joga Durique em cima do colchão e prega meus olhos em sua presença. Vim pela calçada pensando em algumas das coisas que poderia lhe dizer, algumas das coisas que poderia lhe fazer e vi que ainda assim tudo era muito pouco perto do que, de fato, é verdade; vi que tudo que eu possa fazer ainda assim não chegará a uma pequena parcela do que eu sinto e posso vir a sentir com relação a Durique; vi que muitas das atitudes tomadas podem ser vistas como um aprendizado e o nome perfeito de uma paixão que se coloca em sua frente é o ato decisivo que faz um homem pensar de forma diferente. Vim pela calçada só porque antes de olhar seu rosto pela última vez ela me disse pra tomar cuidado. Vim pela calçada e voltaria pela calçada quantas vezes fossem precisas só pra ter o prazer de lhe ver mais uma vez. Vim tanto pela calçada que acabei chegando em casa.
Pena que vim só.
P.V. 00:43 21/04/10

Um comentário:

Karoline disse...

demais , assim como vc s2