sábado, 17 de abril de 2010

Chão de giz


“Mas não vou me sujar fumando apenas um cigarro, nem vou lhe beijar gastando, assim, o meu batom...”
“Meus 20 anos de boy, that’s over baby...”
Pois bem, está mais do que certo, o tempo chegou para mim. Sei que não será da forma que sempre sonhei, sei que nada nessa vida pode ser tão perfeito quanto o sonho que já fugiu tanto de mim nessa última noite onde os olhos estiveram bem mais abertos do que se deveria, talvez pelo simples motivo de querer enxergar, talvez por querer também a memória visual de mais uma perfeição, dia após dia, o costume que não foi prometido.
Minhas duas décadas de vida, meus anos de garoto, minhas intenções estranhas, minhas idéias prontas e palavras certas, tudo em um momento ou outro chega no seu ápice. Não chora um palhaço com a tristeza do fim de um circo, chora um palhaço com a alegria de ter participado do espetáculo...
Todos os motivos são meus e não quero abordar um vôo que nem sequer saiu do chão, os passageiros que me perdoem, o piloto está de saída, a aeromoça me espera no hall, talvez uma limusine, talvez o ônibus, o futuro é pequeno e não há nada mais que me prenda nesse aeroporto cheio de atrasos e filas incríveis para conseguir misérias de felicidade.
Se é um cigarro que morre na minha mão, nada que uma razão não possa dizer os motivos que me levam a querer morrer por ele. Meus momentos de alegria são de maior intensidade quando ando no meio do povo, quando vejo o escuro cada vez mais negro, quando a noite grita em minha volta e a felicidade de todos se reflete em mim, como fosse eu, um incrível espelho multiplicando por vezes e vezes o que se põe na minha frente, como se a Lua que sorria no alto do céu pudesse me entender, somente ela, com sua compreensão eterna, somente ela a olhar por mim e guiar meus passos, algumas vezes por maus caminhos que me levariam a conclusões erradas, porém com as intenções melhores que puderem existir.
Freud explicaria bem melhor que eu, mas na sua ausência fico com minhas próprias palavras, possivelmente perdido. Ainda que tudo não seja tanto quanto o esperado, ainda que o pouco que me deixo levar já vá satisfazendo minhas pobres pretensões, ainda que o mundo me ofereça uma quantidade aquém do que seria, de fato, permitido e orientado, não tenho muito do que reclamar...
Após os 20 anos já abordados, após o fim de muitas outras escolhas que são feitas em prol da sociedade, em prol de mim mesmo, com receio ou medo do que poderia pensar uma estranha ao meu lado, corri de encontro a outro lugar mais distante de tudo, mais distante das vozes, mais distante da beleza, onde eu pudesse me deixar levar pelo instante, onde a verdade de algumas certezas pudessem ter o tempo necessário para nascer ainda mais fortes dentro do meu peito, pra que eu pudesse gritar aos meus amigos, nem tão amigos, que o sentimento existe, e que não são 20 anos que matarão minha paixão, não é por um cigarro que eu vou me sujar, nem beijaria de novo sua boca pra gastar o meu batom...
P.V. 14:10 17/04/10

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