quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um caso no transporte alternativo

Fui eu que tomei a iniciativa num primeiro momento, mas não entendam minhas palavras como alguma coisa que leve ao lado da pederastia, pois encaminhava minha pessoa e minha mente saudável para o âmbito acadêmico onde formo concepções e adentro no mundo das pesquisas para que possa um dia concluir o curso do qual sempre fui apaixonado. Mas um banco vazio me atrai e lá fui eu sentar, oras...
Claro que o banco da frente, justamente esse que atrai maiores atenções e disputas por estar com a visão ampla do que vai acontecendo, as táticas do motorista na habilidade de dirigir, a brisa gostosa que entra pela janela e tudo mais, foi esse banco que ficou vazio enquanto eu ainda me encontrava em pé dentro daquele automóvel que carrega pessoas, o famoso transporte alternativo carioca, uma vez que falham de forma horrorosa todos os outros ditos certos.
Pois a moça era no mínimo desinteressante.
Poderia aqui, em algum momento da dissertação, atribuir-lhe aquele odor estranho de peixe no ar, mas não teria como provar que realmente partia de sua pessoa, ainda que o cheiro tenha desaparecido misteriosamente quando ela se fez ausente. Porém deixemos a partida para daqui a pouco.
Sentei-me confortavelmente entre a fulana e o motorista, agradável momento que deixava transparecer sobre meus olhos após o dia corrido e a tarde tranqüila. Olhos ao meu lado direito me fuzilavam ferozmente e eu, tímido como sempre, dei uma singela virada para averiguar se aquele material era de boa procedência ou se a vida reservara para mim, mais uma vez, os dragões de São Jorge, todos já esfacelados pela ponta de sua espada mortal. Essa até mesmo São Jorge não quereria em seu quintal de batalhas.
É bom enxergarem as tristezas que se colocam em meu caminho desde que me propus a andar pelas ruas da vida, desde que o mundo resolveu me fazer homem, talvez presidente, talvez imortal, um simples apaixonado.
Teve lá seu início terrível então. A fulana, que já não se agüentava de tanto olhar para mim com seus olhos famintos enquanto eu temia pela minha própria saúde, uma vez que sua fome era tamanha que deixava cair pelo lado de sua boca um ou dois pingos de baba e eu lembro, lembro sim, de uma oportunidade em que uns rapazes bem intencionados do Discovery Channel abordaram o assunto de um tal dragão numa ilha perdida desse nosso planeta que matava só com as bactérias da saliva. Tremi. E ela começou a falar...
Indagou insistentemente sobre as pulseiras coloridas que estavam em meus pulso. Queria saber por que motivo e razão ia eu andando com aqueles apetrechos no braço, queria saber o significado e as cores, e o que cada cor fazia. Eu, leigo por vontade própria, ia justificando minha falsa ignorância temendo, que ela arrebentasse alguma delas e implorasse, gritasse, esperniasse até a morte que eu fizesse alguma coisa, quem sabe um beijo, quem sabe um cheirinho no pescoço, quem sabe uma chupadinha no peitinho... e arrepio-me de terror ao lembrar desses momentos da última noite.
Via o motorista sorrindo de leve ao meu lado, maldito que não servia nem sequer para me ajudar de alguma forma, talvez expulsando aquele demônio tarado do corpo de seu transporte alternativo, talvez tivesse guardado no porta-luvas alguns dentes de alho, quam sabe uma cruz, uma Bíblia talvez...
Depois de uma eternidade, com direito a pedidos de maior atenção, com contato físico, palavras desmedidas e perguntas incovenientes, pediu que parasse a Van pois chegava seu ponto. Agradeci a Deus, me benzi, sorri satisfeito, e o fedor de peixe se ausentou, estranhamente. Do lado de fora ainda teve a coragem...:
__ Tchau gatinho...
P.V. 15/04/10 10:48

Um comentário:

KM disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
MOTORISTA SEM VERGONHA ESSE..
MAS Q DESGRAÇA HEEEEEEEEIN.. RS*